quinta-feira, 24 de setembro de 2009


Um erro freqüente que vivenciamos na escola bíblica é a dicotomia entre teoria e prática. Por muito tempo se tem dito (incoerentemente, é verdade) que nossos professores falham porque desenvolvem aulas "teóricas", significando com isso que os alunos da EBD não se engajam em atividades práticas. Será?
Convém apresentar neste artigo, para esclarecermos a situação-problema de nossas atividades educativas na EBD, (1) o significado de aula teórica (ou melhor, o processo de teorização); (2) o significado de aula prática (que não é somente o momento de aplicar o que foi aprendido previamente pela aula teórica) e (3) mostrar a relação orgânica teoria-prática que deve reger nossos empreendimentos educacionais na escola bíblica dominical.

O processo de teorização na EBD

Uma aula teórica na EBD é aquela em que todos os alunos são convidados a uma reflexão própria sobre um problema comum, com ajuda das ferramentas da pesquisa científica. Para subsidiar este conhecimento advindo das ciências bíblicas como a hermenêutica (ciência da interpretação), a história (principalmente, a do povo de Israel – AT e do primeiro século – NT), a lingüística (que esclarece para o estudioso da Bíblia o significado das palavras originais: em hebraico e grego), por exemplo, a Escola Bíblica Dominical faz uso de uma revista, que por sua vez é um comentário de um texto bíblico.
A revista deve ser instrumento de auxílio e não o instrumento de ensino. A aula teórica deve partir da situação-problema enfocada no estudo em pauta. É o caso, por exemplo, na lição de 4 de janeiro da revista Atitude, destinada aos jovens, que tem por título UMA DIFÍCIL CHAMADA. Em vez de ensinar de modo descritivo sobre a chamada do profeta Oséias, o professor deveria levar o aluno a encarar as seguintes questões (situações-problema): O que dá legitimidade à minha relação com Deus? Como devo melhorar a qualidade de minha relação com Deus? Ao fazer isto, o professor instiga a curiosidade dos alunos, leva-os a pensar e a buscar soluções.
É interessante notar, a esta altura, que o processo de teorização não elimina necessariamente a possibilidade do trabalho prático. A aula teórica deve ser planejada para conseguir a participação ativa dos alunos. A fim de exemplificar esta afirmação, por que não pedir aos alunos que formulem um questionário, contendo possíveis respostas às questões principais da reflexão teórica proposta? Há muitas outras técnicas de pesquisa que podem servir a este propósito: biblioteca, dados estatísticos, correspondência, debates, discussões etc.
O próximo passo seria pedir que eles apresentem os resultados, comparando-os com a LIÇÃO EM FOCO (seção da revista em que o aluno se vê diante da aplicação prática do estudo). É nesse momento que os alunos organizam suas descobertas e demonstram o domínio dos conteúdos propostos pela aula. Os resultados, porém, devem levar a classe de volta ao processo de teorização, num ciclo educativo, pela formulação de novas questões (situações-problema).

Planejando a aula prática
O conceito de aula prática que se tem difundido envolve dois aspectos: fazer coisas e aplicar o que foi aprendido. Pode-se afirmar, entretanto, que estes aspectos acabam por reduzir a abrangência proposta por este processo de ensino.
Uma aula pode ser chamada ‘prática’ quando os alunos são levados ao contato direto com a realidade. Infere-se daí que ela não tem fundamentalmente que vir após a problematização (reflexão, teorização), podendo antecipá-la.
Para servir de exemplo, usemos a lição 2, de 11 de janeiro, da revista Atitude, UMA CONTENDA COM DEUS, que apresenta o texto bíblico de Oséias 4 a 6. O tema do estudo focaliza a indignação divina contra o pecado do povo, especificamente, pela desobediência aos mandamentos divinos contra a prática da idolatria.
O professor poderia começar com a seguinte atividade: Dividir a turma em equipes. Entregar a cada equipe massa de modelar e pedir que construam um ídolo. O professor, então, organizaria sua aula teórica para mostrar os resultados da prática da idolatria na vida da nação. Seria importante, também, perguntar aos alunos por que deram aquele formato específico ao seu ídolo? O que esperavam dele? Na aplicação, toda a classe chegaria à conclusão que há necessidades espirituais a serem preenchidas na vida de cada ser humano e, não oferecendo a Deus a oportunidade de preencher este vazio, surge a ocasião para o ídolo, o substituto para Deus.

A relação orgânica teoria-prática
Teoria e prática são partes do mesmo processo de ensino-aprendizagem. Não devemos teorizar sem levar os alunos a viver experiências práticas que modifiquem sua percepção de mundo. Devemos fazer com que os contatos dos alunos com a realidade provoquem questionamentos que devem ser respondidos no processo de teorização.
Não seria fantástico fazer com que nossas escolas bíblicas superassem a dicotomia teoria x prática e tivéssemos aulas que promovessem a interação destes elementos essenciais da aprendizagem?
Então, mãos à obra!

Davi Freitas de Carvalho
é pastor da PIB da Fazenda Botafogo, RJ,
e membro do corpo editorial da Juerp

terça-feira, 8 de setembro de 2009



Publicado originalmente no site da Revista Superinteressante.

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