sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Não haverá uma nova safra de crentes se não houver uma nova classe de professores da Escola Dominical! Não se pode imaginar um futuro para a igreja sem educadores. Muitos acreditam que o professor da Escola Dominical é dispensável. E de fato o é, mas de qual docente estamos falando?
Certos professores são dispensáveis, assim como certos pregadores também o são. É claro que assim como não posso generalizar o último também não devo fazê-lo em relação ao primeiro. A falácia de que os professores dominicais são desnecessários à igreja é uma tentativa malsã de, parafraseando Paulo Freire, “retirar a boniteza do sonho de ser professor de tantos jovens cristãos nesse Brasil”.
Em um país que ideologicamente aprendeu a escamotear e a desvalorizar o professor, não ignoro que muitos líderes cristãos também desprezem esse importante e insubstituível ofício na igreja. Nalgumas vezes, eles parecem ter razão. Alguns docentes há muito deveriam ter pendurado a batuta:

- Ainda continuam lendo integralmente a revista da Escola Dominical;
- Não usam qualquer tipo de método;
- São incapazes de comentar com profundidade teológica o tema da lição;
- Reclamam que o assunto é repetido;
- Além de se colocarem nos holofotes de seus cargos eclesiásticos.

Sim, esse é o perfil do professor desnecessário, substituível, que não quero para a igreja deste novo milênio. Tal ensinante é inútil à renovação da igreja.
Ele é:

- Monocultural, como afirma Luiza Cortesão [1], incapaz de abrir-se ao novo, à renovação;
- Taciturno, perdeu a alegria de ensinar e, por pouco, não perde a satisfação de viver.
- Dogmático, protege os erros teológicos do sistema para preservar sua própria posição na denominação.
- Iludido, pensa estar cumprindo os propósitos do Reino de Deus. Na verdade, ele se colocou na porta da EBD e não permite que ninguém mais a atravesse.
- Resistente, não admite qualquer mudança de paradigma na educação cristã, embora ele mesmo não saiba explicar suas práticas de ensino-aprendizagem.

Não resta dúvida, essa classe de professor perdeu o rumo, o telos, o sentido daquilo que faz e não consegue uma resposta às perguntas: por que ensino? por que sou professor?
Entendo que professores renovados produzirão uma igreja viva e saudável. Livre das enfermidades da religião, que nada mais são do que fábricas de parasitas e cruzados, esses educadores resgatariam toda riqueza que o carisma e o ofício de mestre possuem.
Mas para que isso ocorra, urge uma profunda mudança (metanóia) nos paradigmas educacionais que sustentam, à quase cem anos, a educação dominical. A Formação dos professores dominicais nas Assembleias de Deus no Brasil pouco mudou desde as cruzadas incansáveis de nosso paladino e mestre, Pr. Antonio Gilberto. O árduo trabalho desenvolvido por ele e sua equipe em todo Brasil melhoraram quantitativa e qualitativamente o perfil do professor das Assembleias de Deus.
A nossa denominação pode e deve se orgulhar de sua marcha incansável, e dos heróis e heroínas que se ofereceram como libação a favor de uma igreja madura e comprometida com o Reino de Deus.
Todavia, não podemos viver relembrando as glórias do passado se nos esquecemos dos desafios do presente e inquietações do futuro. O mundo mudou! Não é mais o monobloco de antigamente. E, isto, companheiros (as) exige uma nova classe de professores, um novo paradigma educacional, e uma nova forma de lidar com os desafios da modernidade líquida.

Notas:
[1] CORTESÃO.L. Ser professor: um ofício em risco de extinção. São Paulo: Cortez, 2002.
[2] FREIRE, P. Educação e mudança. 31.ed., São Paulo: Paz e Terra, 2008.

Do Blog Teologia e Graça de Esdras Costa Bentho

Um comentário:

  1. Como formador de professores, vejo uma grande apatia e indolência por parte de muitos ministérios e muitos líderes. Há 14 anos, quando fui chamado a lecionar, eu era pouco mais que um entusiasta, amante da leitura bíblica, de seu estudo e de cultos de busca a Deus, além de orar bastante. Tive sorte pois, na congregação à época, primava-se muito em estudar a Bíblia doutrinariamente. Havia uma classe de ensino para os professores! Por eu ter sido convidado a participar de tais aulas (e passar a frequentá-las), viram em mim um forte candidato a professor (eu discordaria desta seleção hoje). Não houve em nenhum momento uma passagem de técnicas, abordagens, dicas de elaboração de aula, condução dos temas nem ao menos uma bibliografia indicada... era o legítimo "ler a lição toda" e tentar acrescentar alguma coisinha além. No texto presente, vemos sobre as obstaculizações ao ensino por parte de professores enferrujados pelo sistema. Um velho professor, sempre estará em busca de formas cativantes de ministrar. Precisamos parar de pegar pessoas 'esforçadas' e larga-las à frente de classes. Não afirmo que SEM um curso teológico é proibitivo dar aulas mas, as igrejas deveriam pagar treinamentos sérios, dar constante acompanhamento e ter uma biblioteca disponível, por menor que fosse. Devemos também parar de inferiorizar nosso ensino com o termo "Escola Dominical". Ela é Escola BÍBLICA! a referência tem de ser ao conteúdo, não ao evento (aos domingos). Digamos firmes: “Escola Bíblica dominical!”. Outro ponto é que perdemos totalmente o caráter original: evangelização. Dava-se até aulas seculares, para trazer vidas a Cristo. Quero convocar os ensinadores, a pensarem o que pregam. Que não apenas repitam os comentários. Meditem nos textos bíblicos, depois vejam a revista. Se os reformadores ficassem temendo os mestres obtusos ou hereges, hoje não teríamos o conhecimento que temos. Convoco também ao ensino nos lares. As pessoas precisam darem-se a Cristo com mais consciência, com mais “sanidade” e muitíssimo menos empolgações do ambiente ‘envolvente’, das músicas, dos amigos... o “aceitar Cristo” tem que ser muito mais decidido, pensado e particular, que apenas atender um apelo muitas vezes constrangedor e tirador da consciência.

    Robson Costa
    cpl. Evangélico

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